
Abraham acabou seus estudos em Medicina em 1901 e entrou em contato com o grupo psicanalítico de Zurique, através de Jung. Em 1906, casou-se com Hedwig Bürgner, com que teve um casal de filhos. A filha, Hilda Abraham, também psicanalista, escreveu uma biografia sobre o pai “Karl Abraham: Biografia inacabada”.
Em 1908, fundou a Sociedade Psicanalítica de Berlim, que presidiu até sua morte. Sua iniciativa o transformou no primeiro psicanalista alemão a ter um consultório psicanalítico particular.
No congresso de Munique da Associação Internacional Psicanalítica de 1913, Abraham coordenou a oposição contra Jung, quando este renunciou à presidência da Associação e Abraham foi nomeado presidente provisório. A partir do nono congresso presidiu a instituição durante quinze anos. Durante a Segunda Guerra Mundial, criou uma unidade psiquiátrica na frente oriental e esteve quatro anos a cargo da mesma.
Foi analista de Melanie Klein entre 1924 e 1925, e preparou também outros psicanalistas ingleses. Na Alemanha, atuou como mentor de um influente grupo de analistas, como Karen Horney, Helene Deutsch e Franz Alexander.
De acordo com Ernest Jones, na Introdução do livro de Abraham “Teoria Psicanalítica da Libido”, esse autor desenvolveu e publicou diversos artigos interessantes sobre sonhos e mitos, ejaculação precoce, neuroses de guerra e o complexo de castração nas mulheres.
Seus estudos sobre a evolução da libido e a formação do caráter, publicados no livro acima citado, tratam de conceitos que só vieram a ampliar as idéias psicanalíticas do início do século XX. Abraham fez aproximações entre a melancolia e a neurose obsessiva, ressaltando que nessa última, nos casos graves, a libido não pôde desenvolver-se de maneira normal, porque o amor e o ódio, as duas tendências opostas, estão sempre interferindo uma com a outra. Um alto grau de ambivalência pode ser percebido em ambas as enfermidades. Indicou que os sintomas obsessivos se achavam presentes, com certa frequência, nos casos de melancolia, e que os neuróticos obsessivos estão sujeitos a estados de depressão.
Entretanto, destacou que apesar de sua relação comum com a organização sádico-anal da libido, a melancolia e a neurose obsessiva mostram diferenças fundamentais não apenas no que se refere à fase à qual a libido regride no início da doença, mas também na atitude do indivíduo para com o objeto, já que a melancolia abandona o objeto, ao passo que o obsessivo retém, sendo que o processo de regressão na melancolia não se detém no nível mais antigo da fase sádico-anal, mas retrocede em direção a organizações ainda mais primitivas da libido.
Abraham atribuiu às fixações orais e à boca como zona erógena a dificuldade de algumas crianças de dormirem ininterruptamente à noite; acordam e fazem saber que desejam o seio ou a mamadeira ou encontram um substituto.
Deu destaque ao desmame e às suas consequências, destacando que as mães neuróticas retardam o desmame dos filhos por um longo tempo, pois o ato de oferecer o seio para ser sugado é fonte de prazer. Em contrapartida, algumas crianças neuroticamente predispostas reagem à tentativa do desmame ingerindo pouco leite, obrigando a mãe a ceder, em alguns casos podendo essa dificuldade persistir até a idade escolar.
Ainda tratando do processo da melancolia, demonstrou que em alguns casos onde o paciente recusa-se a ingerir qualquer alimento, ele está, na verdade, se punindo por seus impulsos canibalescos. Conclui que o melancólico está sempre tentando fugir de seus impulsos sádico-orais, enquanto que por trás desses impulsos existe o desejo de uma intensa atividade de sugar.
Apesar de ter sido um dos discípulos mais fiéis de Freud, Abraham expressou algumas dúvidas sobre a idéia do instinto de morte. Seu comportamento otimista lhe fez receber com interesse a oferta de Samuel Goldwyn, que, em 1924, quis produzir um filme sobre a psicanálise, com Freud como assessor. Abraham viu nesta oferta uma ocasião extraordinária para popularizar a psicanálise, mas se chocou com o repúdio indignado de Freud e de outros colegas.
Como Jung, Géza Róheim e Otto Rank, Abraham tratou de utilizar a teoria psicanalítica para explicar os mitos, lendas e tradições populares. Em sua concepção, “o mito é um fragmento da vida psíquica infantil dos povos, contém (em forma velada) os desejos da infância dos povos”.
Colaborou com seu mestre no estudo dos transtornos maníaco-depressivos, aos quais Freud dedicou seu ensaio “Duelo e melancolia” (1917). Revisou a teoria freudiana sobre as etapas do desenvolvimento da criança (oral e anal), propondo dividir cada uma delas em duas fases.
Em sua obra abordou também outros temas, como a oralidade, as psicoses, as neuroses de guerra e o vício em drogas.
FONTES
FEBRAPSI http://febrapsi.org.br/resenha.php?texto=resenha_AbrahamWIKIPÉDIA http://pt.wikipedia.org/wiki/Karl_Abraham