DIETAR-SE NÃO PODE: A IMPOSSIBILIDADE DE UM CORPO LIGHT (Marisa Siqueira Campos)
Este Artigo foi originalmente apresentado como
Monografia para a obtenção do certificado de conclusão do Curso de
Especialização em Psicossomática Psicanalítica do Instituto Sedes Sapientiae,
sob a orientação de Aline Eugênia Camargo, em 2014.
INTRODUÇÃO
Este texto
tem como principal objetivo apresentar a construção de um pensamento
clínico-teórico[1], dentro de tantos outros possíveis, sobre a questão do “corpo obeso”. Para tanto, partirei dos
pressupostos da Psicossomática psicanalítica, bem como da delineação do que
seria o “corpo obeso” (dentre tantos
outros corpos possíveis). Primeiramente cabe a questão do sentido do termo “psicossomática psicanalítica”, ou
melhor, de certa adjetivação da Psicossomática pela ideia evocada de
pressupostos da Psicanálise.
Por que
Psicossomática psicanalítica?
No verbete
redigido para o “Dicionário Internacional
da Psicanálise” (Mijolla, 2005), Alain Fine já aponta para a dificuldade em
definir o termo “psicossomática”,
encontrando como denominador comum o entrelaçamento das organizações mentais e
somáticas, seja no dinamismo regular, seja no patológico.
Desde
Hipócrates (460 a.C. – 370 a.C.), que em seu “Corpus Hippocraticum” fundamentava a prática médica na compreensão
de um organismo que incluía a personalidade, encontramos, no decorrer da
história médica, várias proposições heurísticas da intersecção entre “psique” e “soma” – tentativas de apreensão de uma unidade ontológica do ser.
Grande
parte dos pioneiros da Psicossomática surgiu do movimento psicanalítico. Um
grupo de jovens médicos reunia-se junto a Freud a fim de aprender psicanálise
e, posteriormente, exercê-la e divulgá-la. Nas décadas de 1910 e 1920 podemos
encontrar os efeitos da expansão do movimento psicanalítico, bem como migrações
de alguns de seus membros. No contexto da elaboração dos efeitos da revolução
metapsicológica de Freud, certo número de analistas voltou seu interesse para
as relações genéticas e etiológicas entre o psíquico e o biológico. Freud, na
década de 1920, ressaltava a importância desse duplo movimento, destacando a
capacidade da psicanálise como um método terapêutico que leva à compreensão das
relações entre o psíquico e o somático – como fica evidente, por exemplo, em
boa parte do “Além do Princípio do Prazer”,
de 1920.
Segundo
Volich (2010), Ferenczi, interlocutor privilegiado de Freud, em 1919, “analisou a relação entre o pensamento e a
motricidade, afirmando que as pessoas do ‘tipo motor’ são incapazes de uma
atividade intelectual, em virtude da intensidade da atividade muscular. Essa
atividade é utilizada como forma privilegiada de descarga de intensidades de
excitação impossíveis de serem descarregadas pela via da imaginação”
(p.107-8). Essa dinâmica irá, posteriormente, ocupar um lugar central nas
concepções de Pierre Marty, fundador do Instituto de Psicossomática de Paris em
1972.
Georg
Groddeck, médico e membro da Associação Psicanalítica de Berlim, na qual entrou
em 1920, afirmava que as doenças orgânicas podiam ser compreendidas, bem como
tratadas, pela psicanálise. Ele não considerava haver doenças orgânicas ou
doenças psíquicas, pois corpo e alma adoecem ao mesmo tempo. Para ele, a
expressão “psicossomática” não se
refere a um estado, mas a essência do ser humano. Com a obra “O Livro d’Isso”, de 1923, Groddeck passa
a ser considerado o pai da Psicossomática moderna. Segundo Groddeck, “o Isso vive o Homem; é a força que o faz
agir, pensar, crescer, sentir-se bem ou doente, numa palavra, o que o vive”
(in VOLICH, 2010, p.111). O Isso cria a doença, sendo esta carregada de
sentido, de finalidade e função expressiva. As forças do Isso, que levam à
doença, devem ser mobilizadas no processo terapêutico, sem que o médico se
esqueça das resistências do paciente frente ao tratamento – observações
estritamente apontadas por Freud, desde o início de suas construções
clínico-teóricas.
Em 1929,
outro membro da Associação Psicanalítica de Berlim, contemporâneo de Groddeck,
Franz Alexander, que emigrou para os Estados Unidos, considerava que toda
doença é psicossomática, visto que todos os processos fisiológicos são
influenciados por fatores emocionais. Para ele, a Psicossomática diz respeito
ao estudo dos componentes psicológicos nas doenças, e também se refere à
terapêutica cujo objetivo é influenciar os componentes psicológicos em relação
com os “não-psicológicos”.
Volich
(2010) considera a importância da integração das dimensões da Psicossomática e
da Psicanálise, bem como das relações dialéticas entre elas, a fim de se
compreender o interesse da Psicanálise como operador teórico e clínico para a
Psicossomática. Ele afirma que “enquanto
‘operador teórico’, a psicanálise oferece um aparelho conceitual para a
compreensão das relações entre o psíquico e o somático e das funções do
psiquismo no equilíbrio psicossomático. Enquanto ‘operador clínico’, ela
propicia uma referência de escuta, de leitura e de interpretação que amplia as
possibilidades da consulta terapêutica, médica, psicológica e de qualquer outro
profissional da saúde, enriquecendo também os recursos para a intervenção
profilática e mesmo terapêutica em processos educacionais, sociais ou do
trabalho” (p.145).
Pierre
Marty, citado acima, e seu grupo do Instituto de Psicossomática de Paris,
partindo de extensas observações clínicas das concepções psicanalíticas, buscou
compreender a função do aparelho psíquico e de suas relações como reguladores
do funcionamento psicossomático, particularmente dos destinos das excitações no
organismo – as “pulsões”[2] teorizadas
por Freud. O bom funcionamento ou as perturbações dessas dinâmicas, levando-se
em conta as características do desenvolvimento e do momento de vida da pessoa,
podem ter como efeito manifestações “psíquicas”,
“comportamentais” ou “somáticas”, sendo elas normais ou
patológicas. Marilia Aisenstein, em entrevista concedida à Sociedade Brasileira
de Psicanálise de São Paulo, em 2006, aponta para a reflexão de Pierre Marty
como da ordem da abordagem “econômica”
entre o aparelho mental e o aparelho somático, seguindo as ideias de Freud
apresentadas, principalmente, em “Além do
Princípio do Prazer”. O conceito de “pulsão”,
seja no dualismo “conservação x
sexualidade” ou entre Eros e a pulsão de morte, seja na possibilidade de
representação psíquica como formas de pensamento, surge como ideia primordial
do desenvolvimento de uma Psicossomática psicanalítica, principalmente por
levantar a questão da “representação”
da visceralidade do corpo. O problema entre “afeto” (quantidade) e “representação”
(qualidade), que remonta textos como “Estudos
Sobre a Histeria” (Freud & Breuer, 1893-1895) e “A Interpretação dos Sonhos” (Freud, 1900), é resolvido
parcialmente, de certa maneira, com a conceitualização da “pulsão”.
Enquanto
Freud procurava compreender, através do fenômeno histérico, “o salto do psíquico no somático”, outros
autores afirmavam que esse movimento é determinado por um mesmo e único
processo - temos aqui duas perspectivas diferentes sendo consideradas.
Segundo
Marilia Aisenstein, encontramos os seguidores do sistema teórico de Marty,
pensando em uma concepção monista da pulsão – a libido -, que sofre movimentos
de regressão, tidos por Marty como “momentos
de falta” – o “pensamento operatório”.
Ao mesmo tempo, encontramos o grupo que segue o dualismo pulsional de Freud,
considerando a importância da “pulsão de
morte” (que para Marty era inútil do ponto de vista conceitual), uma força
de desligamento e de apagamento, desfazendo sentidos – o “antipensamento”.
Seguindo as
diretrizes descritas por Alain Fine (in MIJOLLA, 2005), duas correntes se
destacaram na França, na década de 1960. A abordagem proposta por Jean-Paul
Valabrega traz o retorno da ideia de “conversão”
da teoria da histeria, apontando para o sintoma psicossomático, manifestamente
visceral, como sendo uma barreira do corpo, impeditivo da simbolização. Pierre
Marty aborda a questão de modo diferente. Partindo, como já apontado acima, da
referência econômica do aparelho psíquico, descreve o sintoma psicossomático
como assimbólico, não capaz de produzir, em sua origem, nenhum sentido.
Mesmo
levando em consideração as duas correntes distintas, fontes de inúmeras
abordagens clínico-teóricas, podemos, em concordância com o verbete redigido
por Alain Fine, compreender o sentido que há no termo “Psicossomática psicanalítica”, como parte da Psicanálise, um de
seus avanços, indiscutivelmente apoiado no conceito de “pulsão”.
“Seja como for, a psicossomática diz respeito
à pessoa humana, ao seu ser concreto, vivo, sexuado, agindo com seu próprio
corpo e sua própria organização psíquica, até na conflitualidade entre os
movimentos individuais de vida e de morte, e incluindo a doença como avatar da
lógica do vivente.” (Alain Fine in MIJOLLA, 2005, p.1490)
***
Na
Medicina, o “corpo obeso” encontra
seus principais parâmetros de referência no transtorno clínico conhecido como “obesidade” – nos quais os aspectos
físicos, incluindo a estética corporal, são os mais discutidos. Katherine A.
Halmi (in TALBOTT; HALES, & YUDOFSKY, 1992), define o quadro de “obesidade” como sendo um acúmulo
excessivo de gordura corporal, provocando um excesso de peso. A “obesidade” é um quadro complexo dentro
da Medicina, incluindo cálculos (índice de massa corporal – IMC), aspectos
clínicos, complicações médicas, estudos epidemiológicos, discussão de
etiologias (pela improbabilidade de haver uma única etiologia para “obesidade”) e patogênese, e
possibilidades de tratamento. Para a maioria dos quadros de “obesidade” (considerados leves), o
tratamento mais eficiente ainda é a dieta, apesar do desenvolvimento da
tecnologia estética nas áreas de cirurgia plástica e exercícios físicos.
Apesar de a
Medicina estar resgatando, aos poucos, o diálogo envolvendo questões “comportamentais” e “emocionais”, ainda vemos esse diálogo permeado por noções da
Psicologia, afastadas da Psicanálise.
É certo que
a materialidade existe, que o homem é instaurado no animal humano, substratos
físicos, orgânicos e bioquímicos; mas também é certo que isto não é assunto
psicanalítico. Fabio Herrmann (1999) aponta para o fato de a Psicanálise estar
estrategicamente colocada entre a Filosofia, a Psicologia, a Medicina e a
Literatura. Herrmann quer dizer com isso que o objeto da Psicanálise é o “Homem Psicanalítico”[3], o homem da
psique, não o homem inteiro. A Psicanálise considera seu objeto como sendo da
ordem de complexos representacionais e pulsionais, sempre em crise com o
estrato civilizatório no qual se encontra inserido. O “corpo obeso”, para a Psicanálise, é representação e pulsionalidade.
Antes de
tentarmos uma compreensão acerca do “corpo
obeso”, devemos questionar a necessidade de um “Homem Psicossomático”. Acredito que, partindo do exposto
anteriormente, falar em Psicossomática sem a estrutura conceitual da
Psicanálise nos levaria a um equívoco. Portanto, o objeto da Psicossomática
psicanalítica deve estar nos pressupostos do objeto da Psicanálise.
Para
iniciarmos uma reflexão a respeito do “corpo
obeso”, precisamos pensar sobre o “corpo
em si” e como se constrói a imagem corporal. Maria Helena Fernandes (2006),
citando Paul Shilder, afirma que a imagem corporal se forma para o sujeito no
interior de seu aparelho psíquico, do tamanho e forma de seu próprio corpo,
incluindo os sentimentos daí advindos – ou seja, um corpo representacional,
representado e representando-se. A unidade formada pela visão do todo, na
figuração interna do corpo, constitui-se em um esquema corporal. Esse esquema
integra as informações internas e externas do sujeito, bem como a experiência
subjetiva com o próprio corpo. Podemos dizer que a imagem corporal se dá pela
percepção e pela avaliação subjetiva que a pessoa faz de seu corpo. Ainda de
acordo com Paul Shilder, estão presentes na constituição da imagem corporal as
dimensões libidinais, isto é, tanto oscilações quanto perturbações da imagem do
corpo se relacionam à economia libidinal. Maria Helena Fernandes também cita
Françoise Dolto, que enfatiza o inconsciente na questão da imagem corporal. A
imagem inconsciente do corpo forma-se como “referência
intuitiva” ao desejo do outro. Com isto, pode-se afirmar que a noção de
imagem corporal se forma nas experiências precoces, primitivas e instintivas,
tendo como referência a saída do reino biológico e orgânico para o reino
humano. Todos nós temos, então, uma imagem corporal que foi se formando desde
nossas primeiras experiências de vida, na relação com o outro – o humano como
parâmetro. A ideia de uma mãe, na relação com seu bebê, se tornar capacitadora
do trânsito de um “corpo de sensações”
(a fome, por exemplo) para um “corpo
falado”, é uma boa analogia do que aqui se trata.
“Aprender a preencher de palavras o vazio da
boca, eis aí um primeiro paradigma da introjeção.” (Maria Torok in
FERNANDES, 2006, p.262)
O corpo
psicanalítico encontra seu lugar, além da anatomia e fisiologia, também em uma
anatomia singular, construída no cenário fantasmático de cada sujeito; o corpo
psicanalítico é portador de sentidos e significados múltiplos, justamente por
causa desse cenário fantasmático, o que faz a passagem de um corpo biológico a
um “corpo-linguagem”.
A partir
das reflexões que fizemos até aqui, como podemos pensar o papel da alimentação
e dos transtornos alimentares na relação do sujeito com o corpo e, mais
precisamente, com o “corpo obeso”? O que a alimentação simboliza?
O primeiro
ponto a destacar, em concordância com Luciana Saddi (in BARONE, 2005), seria a
distinção entre os termos “alimentação”
e “nutrição”. “Nutrição” nos leva ao campo das ciências exatas, baseadas em
métodos experimentais, que pouco tem haver com o método psicanalítico de
ruptura de sentidos do discurso. “Alimentação”,
mais apropriado, nos insere nos campos da “oralidade,
ser nutriz e ser nutrido, sobre comer, sobre imagem corporal e sobre uma
cultura baseada no controle alimentar” (Luciana Saddi in BARONE, 2005,
p.304).
Transpondo
os conceitos de “sexualidade” e “repressão” da era vitoriana para o mundo
moderno, a clínica psicanalítica encontra no verbo “comer” toda uma gama de possibilidades sintomáticas, como “ansiedades”, “angústias” e “medos
irracionais”. É como se as pessoas desassociassem da alimentação – do ato
de “comer” – toda uma série de
emoções a ela associada. Perde-se o antigo “sagrado”
da hora do almoço, por exemplo, onde há socialização e familiarização em torno
da mesa, inserindo o almoço na hora do “corre-corre”
cotidiano. Fernanda Kalil (in GONZAGA & WEINBERG, 2010), em concordância
com o exposto, coloca que o paciente com compulsão alimentar, por exemplo, diz
sentir uma necessidade incontrolável de comer grandes quantidades de comida, em
alguns momentos do dia, sem escolha, sem preparo, sem ritual, ou qualquer
comportamento que leve o sujeito a um investimento simbólico no ato de se
alimentar. A comida é buscada pela sua disponibilidade e facilidade de
ingestão, com mistura de tipos variados de alimento, sem saborear e sem
mastigar adequadamente, engolindo-se o que surge pela frente, em pé, escondido,
sozinho, ou realizando outra atividade simultaneamente, sem se dar conta da
quantidade e, muitas vezes, sem vinculação com a real situação de fome física,
sem sensação de saciedade, só parando com o “goela abaixo”, ou por ser flagrado no descontrole, ou quando acaba
o alimento - vivências de invasão, medo da intrusão, desconfiança e
persecutoriedade.
Aline
Camargo Gurfinkel (in GONZAGA & WEINBERG, 2010) nos diz que a clínica dos
transtornos alimentares encontra-se inserida em complexos entrecruzamentos:
vínculos e linguagem muito primitivos, o que o remete aos primórdios da vida e
da alimentação; o mito totêmico da civilização humana, onde o alimentar-se está
relacionado ao amor e ao ódio em relação ao objeto; vazio, introjeção e perda
do objeto; fantasias de incorporação; fortes deslocamentos e inibições da
libido.
O “corpo obeso” é, com certa frequência,
tido como sistema defensivo de descaracterização do próprio corpo – “um corpo que não é” -; o ideal de
emagrecimento representaria o resgate de si, o reencontro e a afirmação com o
próprio corpo. Para Maria Salete Arenales Loli (2000), o “corpo obeso” é o “corpo
protegido”, que nega frustração e, portanto, o próprio desejo.
Devemos,
também, situar uma questão referente aos transtornos alimentares, para além do
ponto de vista individual, isto é, como eles se articulam com a
contemporaneidade, já que o sujeito está inserido numa cultura e numa sociedade
que determinam o que é e o que não é “patológico”.
Não podemos ignorar o fato de que a maneira como cada um de nós se alimenta
está relacionado com o que vivemos emocionalmente e com o mundo. Com isso é
preciso compreender de que forma a relação da pessoa com o corpo e com os demais
vai influir no comportamento alimentar. Como entrelaçar os níveis
socioculturais, intrapsíquicos e psicopatológicos?
No mundo
contemporâneo, onde tudo avança tão rápido e tudo aprisiona, numa espécie de
desapropriação de si nunca antes vista, não nos cabe mais analisar a clínica
psicanalítica através dos moldes da nosografia psicopatológica clássica advinda
da Psiquiatria. As “novas patologias”
e os “casos difíceis”, descritos e
explorados principalmente pelos franceses, o que inclui os problemas alimentares,
estão cada vez mais preenchendo a clínica e desafiando nosso pensamento. Se na
era vitoriana, época de Freud, a psicopatologia era concebida como a doença
individual em oposição a uma vida plena na sociedade; no mundo contemporâneo
temos a vida plena na sociedade como forma geradora do desconforto mental dos
indivíduos.
“A
‘Psique do Real’ é produzida e transmitida ao mesmo tempo, numa relação
dialética, que entrelaça o individual, o social e o familiar e também os
ultrapassa, possuindo determinação própria que, por sua vez, também determina
as condições de produção de sintomas e quadros psicopatológicos.” (Fabio
Hermann in BARONE, 2005, p. 24)
Fabio Herrmann propõe que o mundo atual se
organiza em forma de psique, “está se tornando cada vez mais psíquico, com
muito mais sentido que substância - em que a marca vale mais que a roupa (tanto
que migrou para o lado de fora), em que a experiência foi substituída pela
informação e a realidade se declara virtual” (Fabio Herrmann in BARONE, 2005, p. 24).
O mundo
contemporâneo, e sua respectiva “psique”,
cria um sistema de “ato puro” – forma
de ação concentrada e de imediata eficiência, distante de qualquer processo de
reflexão (pensamento) que a anteceda. No mundo contemporâneo, o sujeito se
desfaz em efeitos e mais efeitos, exigidos pelo meio no qual se (des)organiza.
Faz-se
interessante o termo “mentalidade de
dieta”, cunhado por Susie Orbach em 1978, e referido por Leda Herrmann e
Luciana Saddi (in MONZANI & MONZANI, 2008).
A “mentalidade de dieta” diz respeito à
perturbação da relação do sujeito, através dos controles sociais, com as
imagens corporais, apetites e paladares. Além disso, também promove a alienação
dos sinais vitais que constituem a alimentação: saciedade, fome e prazer de se
fazer livre escolha do alimento para cada momento específico de fome.
“Esses sinais são perturbados ou apagados e substituídos por
informações pseudonutricionais, dietas de moda e por uma moralidade que migrou
do sexo para os alimentos.” (Fabio
Herrmann e Marion Minerbo in CARONE, 1998, p.19)
A “mentalidade de dieta” acaba levando a
uma privação de calorias, de prazer e a se ter medo dos alimentos e da
gordura. As pessoas ficam perdidas
diante da comida ou mesmo da fome, contando calorias, tentando saber o que é
cientificamente permitido, emitindo opiniões sobre a alimentação. Essas
opiniões encontram-se em artigos científicos de jornais e revistas femininas e
propagam um comer restritivo e regrado, alienado da subjetividade de quem se
alimenta. Segundo Leda Herrmann e Luciana Saddi, “estamos desconectados do
ato de saciar a fome com o alimento saboroso de nossa escolha e com a
quantidade que sentirmos ser suficiente. Nossa sociedade modificou o sentido do
ato de comer, seu homem teme comer ou nem mesmo se permite comer e investigar a
própria alimentação. Mediados por informações diferentes, nos encontramos
perdidos diante do controle produzido por intermediários como: ciência, meios
de comunicação, propaganda, moda, indústria, família e escola. Esses
intermediários criam uma nova moralidade, produzida pela ‘mentalidade de dieta’
e geram a perda de autonomia do homem em relação a sua alimentação” (in MONZANI & MONZANI, 2008, p.184-5).
O que provoca um aumento dos problemas alimentares é a insistência
no método de dieta para a transformação dos corpos, para que se diminua o
mal-estar em relação à gordura. O controle da alimentação do paciente, no qual
são baseados os tratamentos convencionais, visam à contenção do sintoma e à
construção de um corpo idealizado, mas não reconhecem que é desses problemas
exatamente que o paciente sofre, pois reforçam a perda da autonomia, cerne dos
problemas alimentares, já que reproduzem os mesmos meios e objetivos que levam
o paciente a adoecer. Também levam o paciente ao uso fóbico, religioso e rígido
da alimentação, das rotinas e dos cuidados com o corpo. A “mentalidade de dieta” torna-se causa e consequência da falta de
autonomia alimentar. Ela é produzida socialmente e está internalizada,
regulando as relações do homem com sua alimentação e seu corpo. Cada vez mais
comemos de forma “externalizada”. O
sujeito psíquico foi expulso do homem, e este expeliu também sua capacidade de
julgar coisas triviais, como a escolha do que tem vontade de comer e que matará
a sua fome com prazer. Leda Herrmann e Luciana Saddi (in MONZANI & MONZANI,
2008) afirmam que perdemos nossa capacidade de saborear os alimentos, de saber
quando se tem fome e a hora de parar de comer, bem como de escolher os
alimentos livre e espontaneamente. A “mentalidade
de dieta” perturba os sinais vitais: fome, saciedade e prazer, que são
elementos básicos para considerarmos o ato de comer.
***
Até aqui pudemos visualizar
toda uma cadeia complexa que envolve o “corpo
obeso”, o que inclui a intersecção entre orgânico/psíquico do indivíduo e
toda a rede representacional impressa no mundo, que retorna e se reinscreve no
indivíduo. Percebemos também que o olhar da Psicossomática psicanalítica
carrega, pela história e trama conceitual, toda a metodologia da Psicanálise
que, para além dos conceitos, inclui dois instrumentos metodológicos, que
constituem o próprio método psicanalítico: o “campo transferencial” e a “interpretação”.
Segundo Fabio Herrmann
(2004) o material clínico, quando submetido à faca da interpretação, não
deveria replicar pressupostos conceituais: “Não
há teoria por trás, mas sai teoria pela frente” (p.262).
Devemos agora submeter o “corpo obeso”, representado em um
material clínico, ao método da Psicanálise.
O MÉTODO DA PSICANÁLISE NO PSICOSSOMÁTICO: A TÍTULO DE UMA METODOLOGIA
Como não poderia deixar de
ser, a metodologia utilizada nesse estudo deve ser o próprio método
psicanalítico posto em ação. Quando em movimento, o método é investigativo;
investigando, rompe sentidos estagnados, inclusive conceituais, fazendo com que
surjam representações outras, possíveis.
Aqui, o objeto, incluído no
campo da Psicossomática, é o “corpo obeso”.
Devemos deixar que este corpo fale, exponha sua visceralidade, apareça em
outras formas possíveis. Encontrar, talvez, para além da investigação de um
fenômeno particular, as entranhas psíquicas do mundo que o determina.
Na estratégia adotada, os
conceitos não falam por si – é necessário que a interpretação, o ato analítico
de ruptura de sentido, faça com que os conceitos respirem, dando-lhes vida em um
sistema representacional.
A arquitetura da estratégia
aqui manifesta, segundo Marion Minerbo (2000), deve gerar o que a autora
definiu como “Matriz de Desconstrução”:
o método psicanalítico chamado a dar conta das condições de possibilidade do
sintoma, do “corpo obeso”.
Estudaremos um pequeno
recorte clínico, tentando para além do olhar horizontal da história pessoal da
paciente, realizar um mergulho vertical na estética corporal ditada por regras
de um mundo também estético e aprisionador do corpo.
Para onde seremos levados?
Não se sabe ao certo. O método se faz assim: desconstruindo, modifica a teoria,
repercutindo na visão do analista sobre o objeto.
UM RECORTE CLÍNICO
Alice procurou a
psicoterapia por estar obesa. O endocrinologista não sabia mais o que fazer com
ela: a sentia desmotivada, sem energia, depressiva, não conseguia reagir ao
tratamento médico e emagrecer; e ele, então, achou que a psicoterapia poderia
ajudá-la. Ela, por sua vez, concordou, não só porque o médico indicou, mas porque
há um tempo atrás se sentiu chacoalhada pelo irmão, quando esse lhe perguntou
que emoções ela estava “comendo” com
aquele corpo, e por que não fazia terapia. Ela ficou abalada com a forma como
ele falou e achou por bem procurar uma forma de tratamento.
Quando ela chegou pela
primeira vez em meu consultório, confesso que a última coisa que pensei foi que
sua queixa dizia respeito à obesidade - eu não a vi gorda e fiquei surpresa
quando ela disse que estava ali por causa disso. Claro que ela estava acima do
peso, mas por que não enxerguei isso? Este ficou sendo um de meus
questionamentos.
Alice é a irmã mais velha de
uma família de três irmãos, sendo que apenas ela “engordou”. Seu irmão mais novo é muito magro e não consegue
engordar, e seu irmão do meio é o que tem o corpo mais malhado, bem cuidado,
nem gordo nem magro. É o irmão “perfeito”,
mais bem sucedido, que sabe ganhar dinheiro e viver bem a vida. Alice vive
dizendo que não sabe cobrar pelo seu trabalho, apesar de ser muito requisitada
pela sua competência. Em seu discurso já vai se delineando uma dificuldade
clara de se autovalorizar, o que se reflete na impossibilidade de colocar o
devido valor em forma de dinheiro em seu trabalho. Chega a se identificar com a
mãe, uma mulher artisticamente talentosa, mas que não consegue cobrar por seus
quadros e outros trabalhos artísticos.
A cada sessão, percebo uma
linearidade nas emoções de Alice, seja tristeza, alegria, dor, raiva - tudo
parece igual, sem variação de nuances, sentimentos, sem diferenciação de uma
emoção para outra. Chego a lhe dizer que não consigo imaginá-la com raiva,
nunca a vi assim em nenhum momento, mesmo ao me relatar situações que lhe
provocaram esse tipo de sentimento - assim como ela não me passou emoção ao
relatar uma antiga paixão. Alice é casada, mas busca encontrar essa paixão
antiga nas redes sociais. Diz não querer ver, mas quer. Desde o início, porém,
mesmo relatando sobre isso, percebo a sua dificuldade em fantasiar, de falar
sobre seus desejos, sonhos, vontades. Mesmo quando instigada a falar sobre
isso, não transmite emoções, quase não chora ou ri, nem de si nem de nada,
apenas relata suas coisas como narradora de uma história alheia, que não se
afeta com a história contada, sua história.
DESCONSTRUINDO ALICE: ESCUTA HORIZONTAL E ESCUTA VERTICAL
Partiremos agora para um
exercício de desconstrução, utilizando o método psicanalítico circunscrito, é
sempre bom salientar, à escuta do “corpo
obeso” – objeto deste texto. Esperamos com isso, que o sentido deste “corpo” surja por si, comunicando ao que
veio.
Utilizaremos dois
eixos/escuta como instrumento de ruptura: um eixo/escuta horizontal e um
eixo/escuta vertical. Ambos os eixos/escuta, do ponto de vista da metodologia
psicanalítica, encontram-se completamente submersos no campo transferencial,
afetando paciente e analista.
Denominamos “Escuta Horizontal” o discurso histórico
de Alice, inserido num espaço e num tempo que mantém a lógica esperada de quem
simplesmente nos conta algo. Apesar do discurso conexo, a analista permanece em
uma escuta flutuante, propiciadora de um “encontro
desencontrado” – como diria Fabio Herrmann: “um ato falho a dois”.
Denominamos “Escuta Vertical” o mergulho no mar de
sentidos possíveis da história que nos é contada por Alice – uma história
contada contém muitas histórias. Fruto da operação de ruptura de sentido, a “Escuta Vertical” caminha em direção à
desconstrução propriamente dita, que faz surgir uma “fala outra não falada”, produzindo efeito interpretativo “da e na” paciente, bem como “na e da” analista.
Propositalmente, o
horizontal e o vertical serão descritos conjuntamente, como a produzir certo
efeito “estranho”.
***
Alice está
obesa. A Endocrinologia não sabe o que fazer com ela, posto que ao não responder
aos tratamentos médicos, é tida como desmotivada, sem energia, depressiva.
Alice não emagrece e, por não emagrecer, sai em busca de psicoterapia.
O corpo de Alice é teimoso,
não quer responder. “Ele” não sabe o
que fazer com o “corpo dela”. A
teimosia fala pelo corpo dela, obeso, que se nega a responder a ele. Qual a
pergunta a ser respondida por Alice teimosa?
Alice concorda em ir buscar
uma psicoterapia. Ela sempre concorda. Abalada e chacoalhada pelo irmão,
concorda estar “comendo emoções com
aquele corpo” – o corpo dela.
Como se come emoções? O corpo
de Alice sabe, ela não. Para ela sobra uma Alice “com corda” no pescoço, sempre assustada com a possibilidade de
acusações do outro – Ele (no médico, no irmão). “Chá” com “coalhada”? Não,
de jeito nenhum, o corpo de Alice, teimoso, come emoções... Infelizmente deixa
Alice sem saborear nada. Quem sabe a psicoterapia possa fazer com que o corpo
entre em acordo com Alice?
Não reconheci o “corpo obeso” de Alice. Meu olhar não
observou a “queixa”. Mas e meu ouvir?
Olhar e ouvir – na diferença destas percepções, percepções da analista, é no
campo transferencial que se fizeram meus questionamentos clínicos – lembro-me
de ter hipotetizado um certo silêncio, uma impossibilidade de discurso daquele
corpo. Que prevalecesse o “ouvir”. O
que ouvi?
Alice é a mulher na família.
Comparada aos irmãos “Eles”, o “corpo obeso” de Alice mulher representa
imperfeição. O “corpo obeso” começa a
traçar silenciosamente um discurso que, inserido na trama familiar, vai
reclamando e delineando o campo da desvalorização, da incapacidade de valor, de
incompetência em ser. A identificação com uma mãe castrada, castração
representada pela desvalorização, começa a ser tomada em consideração pelo meu
ouvir. Seria aqui a falta do falo que estaria em jogo, produzindo, através do
excesso de gordura, o apêndice valorizado e desejado?
O discurso de Alice é
linear, não apresenta tons ou matizes que representam picos emocionais em suas
vivências, mesmo e principalmente nas sessões. Alice não vive a vida, talvez a
engula a seco. O “corpo obeso” não pode
se manifestar, discursar, surgir, só lhe resta “engordar” – que é a função imperativa e absoluta de um “corpo obeso”. Não há espaço para “emoção”.
Alice tem um segredo: uma
paixão antiga que vive a espreitá-la nas redes sociais. “Ela” vê “Ele”. Alice não
quer ver, mas seu corpo quer. Alice é teimosa no impasse “querer/não querer”, impedindo-se de fantasiar, de viver sua
paixão/desejo como possibilidade bem digerida – e na medida certa de sua
necessidade. O “corpo obeso” grita
por poder sentir sua história, poder contá-la com alegria, tristeza, tesão,
ódio, raiva, enfim, contar sua história humana, humanamente.
Alice é teimosa, procura
psicoterapia para ser instigada a contar/sentir, quando então resiste. O “corpo obeso” é teimoso para sobreviver,
em sua demanda de existir como “corpo
erógeno”, à resistência de Alice para com si própria.
***
Aqui temos uma
desconstrução, um entrecruzamento da horizontalidade e verticalidade da escuta
analítica – o campo transferencial. Mantive o pequeno material utilizado,
intacto, em seus registros iniciais. O que procurei foi uma hipótese clínica,
uma prototeoria sobre Alice. É sempre bom salientar que este exercício se deu
sob a tutela de minha escuta, dentre tantas outras possíveis.
A prototeoria que surgiu
desta escuta inicial é a de que o “corpo
obeso” de Alice, uma silenciosa manifestação de um corpo erógeno impensado
e não possível, existente na periferia representacional do mundo psíquico da
paciente, teimosamente luta para ter espaço, ser ouvido por ela mesma. Resistente,
Alice torna-se vítima dela mesma. Identificada com a mãe/mulher que não se
valoriza, Alice deve cumprir seu destino, a um custo bastante alto para o
equilíbrio da relação prazer/desprazer. O quotidiano, não pensado e, portanto,
não digerido, deve manter-se em apática forma linear, não ocupando
possibilidades no ato de fantasiar – ato lúdico para o aparelho psíquico.
A teoria do “pensamento operatório”, mesmo tendo
desenvolvimentos na teoria do “antipensamento”[4],
advindas ambas da produção de uma Psicanálise que volta sua escuta ao “psicossoma”, portanto psicossomática –
apresentada na introdução desse texto -, mostra-se altamente significativa para
a compreensão e direcionamento de um pensar e agir clínicos no caso de Alice.
“SEGUNDA-FEIRA EU COMEÇO”: À GUISA DE CONCLUSÃO
Este trabalho não segue o
percurso que o leve à conclusões clínicas. Para a autora, a clínica, para além
de conclusões, é uma experiência de cura – curar o homem de si mesmo,
independente dos modismos de época.
O trabalho clínico que
enfrenta as resistências subjacentes à pobreza de constituição de um pensamento
possível de abarcar a si próprio, pensamento este representado e delimitado
teoricamente pelo conceito de “pensamento
operatório”, é um trabalho difícil, de paciência. A escuta clínica deve
pacientemente aguardar frestas possíveis no intuito de construir a
possibilidade de “pensar pela primeira
vez o que nunca pode ser pensado”, o que inclui necessariamente um “pensar a dois”, levando-se em conta os
ditames do campo transferencial.
Acredito que o texto
justificou a contribuição importante que uma Psicossomática Psicanalítica pode
trazer ao pensar esta clínica cada vez mais presente no quotidiano dos homens –
uma Psicossomática Psicanalítica considerada aqui não como uma nova escola
teórica, mas como uma vertente de pensar analiticamente.
A lógica do “corpo obeso”, ao menos um pedaço dela,
mostrou-se através da relação de Alice com seu corpo, suas identificações, seu
desejo, seu destino – um corpo/desejo/destino sem palavra possível, que busca
na psicoterapia preencher com palavras uma boca/desejo vazia, apaticamente
entregue ao destino que a identifica na doença de desvalorizar-se.
Espero ter contribuído, de
alguma forma, para incitação da importância de pensar psicanaliticamente o
psicossoma – esta foi minha principal intenção: abrir espaço para o “ato falho a dois”, capaz de produzir
frestas necessárias na direção de criar uma possibilidade outra.
Para mim, ao longo do
trabalho com Alice, fica o desafio da lógica estrutural da “mentalidade da dieta”, absorvida pelo
mundo contemporâneo de um corpo perfeito que nunca se encontra com o sujeito
que o habita: “Promessa: Segunda-feira eu
começo...”.
NOTAS
[1] A expressão “clínico-teórico” costuma-se grafar como
“teórico-clínico”. Aqui, seguindo as
ideias metodológicas de Fabio Herrmann, utiliza-se “clínico-teórico” no intuito de salientar que uma construção teórica
deve partir do campo clínico em que esta se dá.
[2] Seguindo o
verbete redigido por Michèle Porte para o Dicionário Internacional da
Psicanálise (Mijolla, 2005), a teoria das pulsões é compreendida por Freud como
sendo a mitologia da Psicanálise, ideia apontada a Einstein em 1933. Em 1915,
Freud assim descreve a “pulsão”: “A ‘pulsão’ se nos apresenta como um
conceito-limite entre anímico e somático, como representante psíquico dos
estímulos provenientes do interior do corpo e que logram chegar à alma, como
uma medida da exigência de trabalho que é imposta à alma em resultado da sua
coesão com o corpo.” (in Mijolla, 2005, p.1513)
[3] O “Homem Psicanalítico (…) tem por carne e osso
seu sentido e por hábitat e origem o real humano, psíquico.” (Herrmann,
1999, p.16)
Para Fabio Herrmann,
o objeto da Psicanálise é o ser do psiquismo humano, vivente no reino dos
sentidos e significados, “é o ser do
método da Psicanálise, transferencial e descentrado internamente, dividido e
múltiplo no íntimo de suas operações, (...) o Homem Psicanalítico é um ser da
estranheza.” (Herrmann, 1999, p.17)
Um homem em crise
representacional, sempre em busca de si mesmo, mas com uma passada sempre
atrasada – eis o objeto da Psicanálise.
[4] O conceito de “antipensamento”, desenvolvido pela
Escola Psicossomática de Paris, e estudado por Marilia Aisenstein, vai além da
estrutura do “pensamento operatório”,
ao incluir, através da pulsão de morte, uma literal destruição da capacidade de
pensar.
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MARISA SIQUEIRA CAMPOS é psicóloga clínica e pedagoga, Especialista em
Psicossomática Psicanalítica pelo Instituto Sedes Sapientiae.
E-mail: marisascampos@terra.com.br
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